Histórico

A criação em 1987 do Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia de Cianobactérias (LETC) se deu como conseqüência da contratação, por concurso público, da Profa. Sandra M. F. O. Azevedo, como docente do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) da UFRJ. Esse laboratório passou então a ser pioneiro no país em estudos sobre cianobactérias e cianotoxinas. Suas primeiras atividades foram o isolamento de cepas de cianobactérias de amostras de populações fitoplanctônicas de diversos ambientes aquáticos e a implantação de bioensaios de toxicidade aguda em camundongos.

Após a realização de seu pós-doutorado (1991) no Departamento de Ciências Biológicas na Wright State University, Ohio - EUA, foi estabelecida uma profícua e duradoura colaboração com o Prof Wayne W. Carmichael (um dos maiores especialistas mundiais no tema), o que possibilitou a implantação de técnicas de análises de cianotoxinas por HPLC e, posteriormente, imunoensaios do tipo ELISA e ensaios enzimáticos. Isso permitiu o avanço do conhecimento sobre a produção de cianotoxinas por diferentes cepas de cianobactérias brasileiras, efeitos ambientais e toxicológicos.

Parte dessas técnicas já estava devidamente implantada no LETC quando, em 1996, ocorreu um evento que passou a ser conhecido internacionalmente como a “Tragédia de Caruaru”. Toda a equipe do LETC teve uma participação decisiva na elucidação da causa de intoxicação e morte de pacientes renais crônicos da cidade de Caruaru (130 intoxicações agudas e 60 mortes até dezembro de 1996), que foram expostos a microcistinas e cilindrospermopsina presentes na água utilizada para o tratamento dialítico. Este passou a ser o primeiro caso confirmado de mortes humanas causadas por intoxicação com cianotoxinas e alguns prêmios foram concedidos para o grupo em decorrência desse trabalho: 1996 - Agradecimento do Reitor da UFRJ, pela participação na elucidação da causa das intoxicações dos pacientes de hemodiálise de Caruaru (PE). 1996 - Honra ao Mérito outorgada pelo Ministro da Saúde, como forma de reconhecimento ao trabalho que resultou na identificação das hepatotoxinas de cianobactérias como agentes causais do episódio ocorrido em Caruaru (PE). 1999 – Honra ao Mérito outorgada pelo CRBio-2, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à Biologia. 1999 –Prêmio "James H. Nakano Citation" (CDC-USA) pelo trabalho publicado na N. Engl. J. Med. 338:873-88.

A transferência desse laboratório para o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho - UFRJ, no final de 1999, representou um novo avanço para o LETC, pois a maior disponibilidade de espaço físico permitiu uma significativa melhoria das condições de trabalho. Além disso, foi possível o estabelecimento de novas parcerias científicas que propiciaram o desenvolvimento de estudos mais elaborados em toxicologia e efeitos fisiológicos de algumas cianotoxinas em mamíferos e organismos aquáticos.

Atualmente, as atividades de pesquisa em desenvolvimento no LETC são: Ocorrência de cianobactérias tóxicas em ecossistemas aquáticos brasileiros; Influência de fatores ambientais no crescimento e produção de toxinas por cianobactérias; Isolamento e manutenção de linhagens de cianobactérias em coleções de culturas; Extração, purificação e quantificação de cianotoxinas por métodos cromatográficos, imunológicos e enzimáticos; Avaliação dos processos de bioacumulação de cianotoxinas pela biota aquática e suas conseqüências ambientais e para a saúde pública; Eficiência de processos de tratamento da água na remoção de células viáveis de cianobactérias e suas toxinas; Efeitos fisiológicos e toxicológicos da exposição crônica a cianotoxinas em peixes e mamíferos; Estudos "omicos" (genômicos, proteômicos e metagenômicos) com linhagens de cianobactérias, buscando identificar fatores ambientais relacionados com a síntese de cianotoxinas e sucesso adaptativo das cianobactérias; Efeitos da intensidade luminosa e concentração de nutrientes na produção de biomassa e produção de lipídeos por microalgas.

Como resultados desse esforço nestes 25 anos já foram publicados mais de 60 trabalhos científicos em revistas indexadas. Nesse período, 13 Teses de Doutorado e 18 dissertações de mestrado já foram defendidas e 8 Pós-Doutorandos já desenvolveram seus projetos de pesquisa vinculados ao LETC. Atualmente, 1 Pós-Doutorando, 3 doutorandos e 1 mestrandos estão vinculados ao laboratório.

Vários programas de cooperação foram estabelecidos para treinamento de alunos de outras Instituições, técnicos de empresas de tratamento de água, controle ambiental e órgãos de saúde pública, tanto brasileiras como da América Latina. A coordenadora do laboratório participou do comitê editorial para elaboração do primeiro "guideline" da OMS para cianobactérias tóxicas em 1997/1998 (Toxic Cyanobactaria in Water: a guide to their public health consequences, monitoring and management. Chorus & Bartram, edit., 1999) e fez parte do comitê editorial da segunda edição do mesmo “guidebook”, que está em processo final de editoração para a publicação.

Os trabalhos realizados por este grupo contribuíram para o reconhecimento dos problemas relativos ao aumento de florações tóxicas de cianobactérias em mananciais de abastecimento público brasileiros e a inclusão do monitoramento de cianobactérias e de algumas cianotoxinas na portaria que trata da água para consumo humano (Portarias 518/MS março/2004 e 2914/MS dezembro/2011 ). 

Esse trabalho já foi formalmente reconhecido pela UNESCO, através do International Hydrology Programme (IHP), quando do convite e inserção do grupo no International Steering Committee da rede CYANONET, como representante da América Latina e Caribe.

O grupo organizou em 2001 o I Seminário Latino-Americano sobre Cianobactérias Tóxicas e em 2007 a VII International Conference on Toxic Cyanobacteria, que ocorreu pela primeira vez na América Latina.

Desde 2006 a coordenadora deste laboratório é membro do Comitê Científico do International Lake Environment Committee Foundation (ILEC), com sede no Japão.