Autora: Raquel Moraes Soares
Título: Acúmulo, depuração e efeitos de microcistinas (hepatotoxinas de cianobactérias) em Tilapia rendalli (Cichlidae)
Ano: 1999. Texto completo em PDF
Resumo:
O intenso crescimento da cianobactéria Microcystis aeruginosa formando florações ambientes aquáticos, tem sido frequentemente relatado_ Esta espécie pode produzir hepatotoxinas (microcistinas) que podem causar danos severos à biota aquática e mamíferos. Os efeitos desta cianobactéria tóxica na ictiofauna são de grande importância devido ao papapel ecólogico, econômico e social desses organismos tanto na rede trófica quanto na economia e saúde de populações humanas que se alimentam desses peixes. O objetivo deste trabalho foi estudar o processo de acúmulo e depuração de microcistinas em Tilapia rendalli e o efeito dessas toxinas no crescimento deste peixe. Foram realizados três experimentos com peixes jovens em condições de laboratório. No primeiro, os peixes foram expostos, durante 15 dias, a um alimento contendo ração e células tóxicas de Microcystis aeruginosa (20,4µg de microcistina/dia/peixe). Nos 15 dias seguintes, os peixes receberam alimento não contaminado. A cada 3 dias, 4 peixes foram retirados e as fezes foram coletadas para análises de microcistinas. No segundo experimento, os peixes foram alimentados, por 28 dias, apenas com células tóxicas de M aeruginosa (14,6µg de microcistina/dia/peixe). No terceiro experimento, os peixes receberam alimento com ração e células tóxicas, previamente rompidas, durante 6 semanas, com 29,2µg de microcistina/dia/peixe. Nestes dois experimentos os peixes foram amostrados a cada 7 dias, sendo também realizada a biometria destes organismos. As análises de microcistinas no fígado, músculo e fezes foram feitas por imunoensaio tipo ELISA. Os resultados do primeiro experimento indicaram que com seis dias de ingestão os peixes apresentaram o nível mais elevado de microcistinas no fígado (0,6µg.g-1), sendo que no músculo esta maior dose aconteceu já na fase de depuração (24º. dia -0,05µg.g-1), indicando possivelmente, uma transferência de microcistinas do fígado para o músculo. Ao interromper a ingestão de células tóxicas, os peixes excretam aproximadamente 50% das toxinas acumuladas através das fezes. No segundo experimento, observou-se que o alimento contendo apenas células tóxicas favoreceu um maior acúmulo de microcistinas nos tecidos em relação aos outros experimentos. No terceiro experimento, o rompimento das células tóxicas fez com que as toxinas livres fossem absorvidas de maneira diferente, sendo o maior concentração no fígado encontrada no 42º.dia (1,7µg.g-1). Uma redução no ganho de peso de peixes intoxicados com microcistinas também foi observado neste experimento. Este trabalho verificar que Tilapia rendalli ao ingerir células de M aeruginosa e microcistinas em concentrações normalmente encontradas em florações pode acumular estas toxinas em concentrações acima do limite aceitável para o consumo humano, o que representa um sério risco para o ecossistema aquático e para saúde pública.