Autor: Renato José Reis Molica.
Título: Efeito da intensidade luminosa no crescimento e produção de microcistinas em duas cepas de Microcystis aeruginosa Kutz Emend. Elenkin (Cyanophyceae),]
Ano: 1996. Texto completo em PDF
Resumo:
O processo de eutrofização que a maioria dos corpos d'água vem sofrendo nas últimas décadas tem levado a um crescimento exagerado das cianofíceas ou cianobactérias. A esses eventos dá-se o nome de ''blooms'' ou florações. O problema é que muitas das espécies formadoras de florações estão relacionadas com a produção de toxinas, sendo estas responsáveis por diversos casos de intoxicação tanto animal como humana. As hepatotoxinas são as toxinas mais comumente envolvidas nestes casos, sendo dentro deste grupo, as microcistinas as principais representantes. A espécie Microcystis aeruginosa é a mais frequentemente relacionada com a ocorrência de florações tóxicas em todo o mundo. A maioria das espécies que formam florações possuem vacúolos gasosos, permitindo que estes organismos se acumulem na superfície dos corpos d'águas, o que por consequência, leva as células, durante estes eventos, a ficarem expostas a altas intensidades luminosas. Para melhor compreendermos as possíveis variações na síntese de microcistinas nesta condição, realizamos experimentos com cepas de M aeruginosa produtora (NPLJ-4) e não produtora (NPCD-1) de microcistinas, em que alteramos a intensidade luminosa de 40 para 180 µmoles fótons.m-2 s-1, quando as células atingiram o período entre a fase exponencial de crescimento e a fase estacionária (desaceleração da divisão celular) e o final da fase exponencial de crescimento. Durante os experimentos, acompanhamos o estado fisiológico das culturas mediante contagens das células e pela análise dos seguintes parâmetros fisiológicos: clorofila a, proteínas e carboidratos intracelulares e produção de biomassa. Também foi acompanhada a resposta da atividade fotossintética da cepa NPLJ -4, em relação a diferentes irradiâncias, quando a intensidade luminosa foi alterada no final da fase exponencial de crescimento. A alteração da intensidade luminosa não induziu a produção de microcistinas na cepa NPCD-l. A fase de crescimento e os regimes de luz influenciaram bastante a síntese destas hepatotoxinas na cepa NPLJ -4. O conteúdo intracelular de microcistinas foi maior na fase de desaceleração da divisão celular e diminuiu ao longo da fase estacionária. Sob a intensidade de 40 µmoles fótons.m-2 s-1 foram observados os maiores níveis de microcistina e a alteração da intensidade luminosa para 180 µmoles fótons.m-2 s-1 levou a uma diminuição dos níveis destas toxinas. A mudança da irradiância proporcionou um aumento da velocidade de divisão celular e os valores de clorofila a, proteínas e carboidratos destas culturas tenderam a se igualar aos das culturas que se desenvolveram sob 180 µmoles fótons.m-2 s-1 . A resposta da atividade fotossintética a diferentes irradiâncias mostrou que as células submetidas à alteração da irradiância sofreram um processo de fotoinibição e os maiores valores de atividade fotossintética máxima foram observados nas culturas que se desenvolveram sob a maior irradiância. Os nossos experimentos não nos permitiram concluir de que maneira a luz estaria afetando da síntese de microcistinas. Entretanto, duas hipóteses puderam ser levantadas: sob intensidades luminosas maiores, ocorreria um desvio da maior parte da energia disponível para aumentar a eficiência na absorção e utilização do CO2, durante o processo fotossintético, ocorrendo consequentemente uma diminuição da síntese de enzimas responsáveis pela síntese de microcistinas. A outra hipótese poderia ser que a diminuição do conteúdo de microcistinas, em resposta a um aumento da intensidade luminosa, devendo-se a um aumento da velocidade especifica de crescimento.