Autor(a): Daniel Vinicius Neves de Lima
Título: Respostas fisiológicas de linhagens de Cylindrospermopsis raciborskii (Cyanobacteria) à condutividade da água: Efeito dos íons sódio e magnésio
Ano:2017. Texto completo em PDF
Resumo:
Os ambientes aquáticos da região do semiárido do Nordeste apresentam alta condutividade da água com valores acima de 1000 μS /cm. Isso está associado a fatores como a composição mineral da bacia hidrográfica e efeitos extremos da mudança climática (seca, evaporação, temperatura e precipitação). Trabalhos anteriores nesses ambientes mostraram ocorrência de florações de cianobactérias com dominância de Cylindrospermopsis raciborskii, uma espécie potencialmente produtora de saxitoxinas e cilindrospermopsina. Estudos de cultivo em laboratório têm investigado as respostas de C. raciborskii a variáveis abióticas, como nutrientes, luz e temperatura, mas geralmente são realizados com apenas uma linhagem. Por outro lado, é sabido que a floração consiste em um "pool" de linhagens. Portanto, para entender o comportamento da espécie, estudos com mais linhagens são necessários. Além disso, poucos estudos avaliaram as respostas de cianobactérias à condutividade da água e ao estresse causado por diferentes íons (Mg2+, Ca2+, Na+). O objetivo do presente trabalho foi investigar os efeitos da condutividade da água sobre linhagens de C. raciborskii produtoras e não produtoras de saxitoxina. Foram incluídas quatro linhagens brasileiras, duas produtoras de saxitoxina (STX+) - ITEP-A1, isolada do reservatório de Arcoverde (Nordeste, PE) e CyRF-1, isolada do reservatório de Funil (Sudeste, RJ) - e duas não produtoras (STX-): CyLP, isolada do Lago Paranoá (Centro-oeste, DF) e NPCS-1 isolada do reservatório de Custódia (Nordeste, PE). As linhagens foram cultivadas em meio ASM-1 e o desenho experimental consistiu em dois tratamentos: adição de NaCl (10mM) e MgCl2 (5mM), resultando em um valor de condutividade de 1500 + 100 μS /cm em ambos os casos. A condição controle foi ASM-1 sem adição de sal (condutividade 450 μS/cm). As culturas foram mantidas a 50 μmol.photon.m2.s-1, fotoperíodo de 12 horas, pH inicial 8,0 e aeração com duração de 15 dias. As respostas fisiológicas foram avaliadas segundo os seguintes parâmetros: crescimento, parâmetros fotossintéticos, concentração de saxitoxina, perfil de proteínas totais e concentração de carboidratos intra e extracelulares. O tratamento com NaCl não inibiu o crescimento de nenhuma linhagem, já o crescimento em presença de MgCl2 variou entre as linhagens. Logo, esta a resposta no crescimento de C. raciborskii não se relaciona à condutividade em si, mas ao tipo de íon em solução. Não foram observadas diferenças no perfil de proteínas e nos parâmetros fotossintéticos frente aos íons testados em comparação com o controle. A concentração de saxitoxinas também não se alterou nestas condições. A produção de saxitoxina não acarretou em vantagem ou desvantagem para as linhagens frente a uma maior condutividade. Foi observada uma maior produção de carboidratos intracelulares na linhagem ITEP-A1 em resposta à presença de NaCl. Em suma, os tratamentos resultaram em poucas alterações na fisiologia das linhagens (mesmo entre STX+ e STX-). Por outro lado, as diferenças mais evidentes foram encontradas nas respostas individuais das linhagens mantidas sob uma mesma condição. Este estudo revela a capacidade de adaptação de linhagens de C. raciborskii a aumento de condutividade, a resposta diferenciada para cada íon e importância de se considerar a variabilidade intraespecífica em estudos de fisiologia de uma espécie de cianobactéria.