Autor: Allan Amorim Santos
Título: Dinâmica da Microcistina-LR na Lagoa de Jacarepaguá (RJ): Aspectos Físicos, Químicos e Biológicos
Ano: 2016. Texto completo em pdf
Microcistinas (MCs) são cianotoxinas produzidas por diferentes gêneros de cianobactérias em ambientes aquáticos. É um heptapeptídeo cíclico e tóxico para diversos organismos. Mais de 90 variantes de MC são descritas, sendo a –LR (leucina-arginina) uma das mais tóxicas. Na lagoa de Jacarepaguá (Rio de Janeiro), as cianobactérias são abundantes e reportadas desde 1996 produzindo MCs. A dinâmica dessa molécula no ambiente aquático consiste na bioacumulação em organismos, adsorção a partículas do sedimento e biodegradação por microrganismos. O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência de alguns fatores como pH, temperatura atmosférica e aeração, sobre a sua dinâmica nos compartimentos da lagoa de Jacarepaguá. Além disso, avaliamos a biodegradação da MC por consórcios microbianos da água e do sedimento, caracterizando-os quanto à sua composição bacteriana por metagenômica. Experimentos com duração de 7 dias foram realizados para avaliar tanto o processo de adsorção como a atividade de biodegradação. Os parâmetros analisados não foram capazes de causar o retorno da toxina pré- existente no sedimento para a coluna d’água. Também foi avaliada a adsorção após a adição de uma concentração conhecida da toxina. Condições ácidas ocasionaram uma imediata diminuição da mesma na coluna d’água, possivelmente atribuída à adsorção. O aquecimento a 45 ºC acarretou na diminuição total da toxina na água ao longo dos 7 dias, o que não ocorreu a 25 ºC. A aeração na interface água/sedimento causou uma diminuição intensa já no quarto dia, sendo completa ao longo dos 7 dias, o que não ocorreu sem aeração. Então, os efeitos avaliados podem aumentar a capacidade de adsorção da MC ao sedimento. Porém, tratamentos do sedimento com azida sódica (antimicrobiano) e água estéril demonstraram que o mesmo após procedimentos de manipulação foi capaz de biodegradar a toxina e, portanto, este processo ocorreu simultâneo à adsorção. Nos experimentos de biodegradação pelos consórcios microbianos (<0,45µm diâmetro) da água e do sedimento, a MC foi eliminada ao longo de 7 dias. Consórcios de microrganismos <0,22 µm (nanobactérias) também foram evidenciados e capazes de biodegradar a MC-LR. A caracterização da comunidade bacteriana da água e do sedimento por metagenômica demonstrou diferentes composições entre esses compartimentos. Filos como Proteobacteria e Actinobacteria foram os mais abundantes na água, ao contrário da água intersticial do sedimento onde o filo candidato a divisão OP3 foi o mais abundante. Já no sedimento bruto, que abrange uma comunidade mais completa, os filos predominantes foram Chloroflexi, Proteobacteria e Firmicutes. Além disso, foi observada a presença de muitos gêneros já descritos na literatura capazes de biodegradar a MCLR, sugerindo possíveis participantes do processo de biodegradação nos compartimentos da lagoa de Jacarepaguá, o que não invalida a participação de outros microrganismos de um modo geral através de uma atividade compartilhada.